O fetiche pode ser entendido como o interesse específico por algum tipo de objeto ou situação, capaz de gerar excitação sexual, diferente ao ato da cópula. Existem pessoas com atração por partes específicas do corpo, como pés, mãos etc, ou ainda o uso de objetos como fantasias, roupas e acessórios na hora do sexo, jogos eróticos de submissão e dominação e até escatologia, que é sexo com excrementos corporais.

Diferente do que fomos levados a crer, a sexualidade não pode ser resumida ou engessada numa determinada prática. Crer que este ou aquele jeito é certo gerou por séculos diversos desvios de julgamento morais, que culminou com pessoas excluídas de suas famílias, presas, tratadas como doentes e até mortas como punição.

O fato é que desde que o homem se aventurava na arte do sexo, ele também se aventurava em registrar nas paredes das cavernas. E entre os mais diversos povos, chegaram até nós registros de sexos grupais em festas e rituais religiosos e até mesmo sexos entre pessoas do mesmo gênero, sem de fato o estabelecimento de diferenciação, como fazemos hoje com os homossexuais.

Nos dias atuais, o fetiche surge como pauta nas mídias mais como uma fórmula mágica de religar os casais, através da vivência de fantasias guardadas às sete chaves.

Existem práticas de fetiche leve, moderado e exclusivo. De acordo com o artigo “Estudo introdutório acerca do fetichismo“, os traços que distinguem o fetichismo da conduta sensual correta são: a fixação, a dependência em relação ao objeto de origem e a exclusividade do objeto como condição para a satisfação”. Ou seja, citando um exemplo, se um homem, que se vê como hetero e só sente atração por mulheres, não estiver de calcinha fio dental na hora da transa, ele não consegue entrar no clima. Percebe como o fetiche se entrelaça também com a obsessão?

Na psicologia, certos casos de fetiche também podem estar associados à perversão, como obter prazer às custas de imputar sofrimento ou humilhação ao parceiro. Durante sessões de terapia, é muito importante deixar o paciente livre para expor todos os seus fetiches e permitir, através da condução da conversa por perguntas, que ele perceba se a prática fetichista produz algum efeito colateral na psique dele, que pratica, ou do parceiro.  Certas linhas de psicólogos defendem que não havendo prejuízo à integridade física e moral de ambos e a prática sendo consensual, o sexo fetichista poderia acontecer sem problema. Já profissionais com outra abordagem, poderão enxergar nestas praticas pela busca do prazer mais distorcidas, correlações com o passado do paciente, como maus tratos por exemplo. E convidá-lo a visitar este passado, muito provavelmente mais bem guardado que seus fetiches, e que pode estar de alguma forma, alimentando no presente o desejo de dominar (a revanche com o que viveu) ou de ser dominado (reviver emoções num looping).

O principal é trabalhar na mente para que a realização das fantasias não gere conflitos mentais na questão ética ou religiosa, o que chamamos de dissonância cognitiva, capaz de gerar sentimentos de culpa, nojo, autoexpiação, baixa autoestima, ansiedade e depressão.

É preciso entender e aceitar que o sexo, para a raça humana, é muito além do que o fim procriativo. A última motivação que o homem moderno tem para o ato sexual é fazer filho. As mais fortes são a atração, o desejo de conquista, de afeto, socialização, status…E nada disso tem a ver com fazer filho. Então não podemos fechar a prática apenas no ato procriativo.

Hoje, há o entendimento de que a sexualidade humana é rica, que somos animais intrinsicamente criativos e essa criatividade se manifesta das mais diversas formas nas esferas de nossas vidas, incluindo a sexual. Portanto, ter sonhos eróticos e até mesmo realiza-los não tem nada de anormal. Contudo, existem casos em que os fetiches tomam proporções maiores do que a pessoa gostaria. Se acabam trazendo consigo sofrimento intenso, para si ou à terceiro e o prazer erótico e sexual se resume única e exclusivamente a essas práticas, é hora de procurar ajuda sim. O limite da prática é como o remédio: pode ajudar ou fazer mal de acordo com a dose. Se a fixação por um certo fetiche tira sua paz mental, atrapalha sua relação com o parceiro, está na hora de você se despir não na cama, mas numa sessão de terapia, para juntos buscarmos a origem da parafilia e trabalharmos que a sua prática sexual esteja a favor de uma vida mais feliz.