Você deve conhecer alguém que se sente envergonhada a ponto de ficar com as bochechas rubras quando recebe um elogio sincero, seja por sua simpatia, amizade ou profissionalismo no trabalho, não é? E que diante da validação de terceiros sobre uma tarefa bem executada, responde: imagina! Para com isso… Não foi nada! Isso acontece com muita frequência, principalmente em nossa cultura influenciada pelo cristianismo; que eleva a humildade como uma das mais admiráveis virtudes e impregnou em nós um hábito da modéstia, tão perigoso no mercado corporativo, competitivo por natureza, em que os executivos precisam não somente ser eficientes, mas provar sua competência e defender seus pontos de vista, ou seja, de alguma forma, mirar luzes sobre sua competência.

Mas para muitas pessoas, o fato é que o reconhecimento incomoda. Ele soa como um ruído gritante no ouvido. É como se a pessoa estivesse sendo confundida com outra. Por que ela não se vê dessa maneira. Não se ve capaz, amável, perfeccionista. Na verdade, talvez ela ache que nem deveria fazer o que faz no emprego, nem namorar com quem namora. A sensação toda é de que “estou no lugar errado”, estes elogios não podem ser pra mim.

Situações vivenciadas como esta e com frequência podem ser indícios do quadro conhecido como “Síndrome do Impostor”.

O termo Síndrome do Impostor foi citado pela primeira vez em 1978 em um artigo elaborado Pauline Clance e Suzanne Imes, duas psicólogas norte-americanas que estudavam o caso de mulheres que, mesmo em cargos de alta responsabilidade, “continuavam a acreditar que não eram realmente inteligentes e deviam ter enganado as pessoas que pensavam que elas eram.
Podemos definir esta síndrome como um conjunto de comportamentos, pensamentos e sentimentos que coloca a pessoa em dúvida sobre o seu próprio mérito, mesmo com a presença de evidências que confirmam sua competência. A pessoa se sente uma fraude, não merecedora do reconhecimento recebido.
Partindo deste pensamento distorcido a respeito de si, a pessoa com a síndrome pode se auto sabotar na vida afetiva (eu não mereço o amor que ganho) e profissional (eu sou inferior às responsabilidades que me atribuíram, não deveria estar aqui).
Alguns estudos apontam que o comportamento autodestrutivo de diversos artistas famosos seria movido pela síndrome. Como aqueles artistas que viram capas de revistas de fofoca, em closes degradantes, totalmente entregues vícios, destratando fãs e a imprensa, quebrando compromissos com shows e gravadoras, até o ponto de implodirem suas carreiras. Na sua mente, o que se nota de linear no estudo psicológico destas pessoas é a repetição da sensação de negação: uma repulsa à toda idolatria dos fãs e ao dinheiro conseguido com a fama, porque no fundo, eles não se sentem dignos de tudo aquilo. Eles se percebem humanos, mas são cobrados como divinos. Percebemos através da análise destes casos que a síndrome pode estar vinculada a uma grande pressão do ambiente. Contudo, é comum que os transtornos se manifestem não só pelo ambiente, mas da soma deste com as experiências da vida pregressa durante a formação de valores como a infância e adolescência e também influência genética.
O tratamento da síndrome deve contar ajuda profissional, para que o paciente consiga modificar crenças que estão o perturbando e aprender a lidar com os sentimentos de insegurança e de fraude.

DICAS QUE PODEM AJUDAR A IDENTIFICAR SE VOCÊ TEM A SÍNDROME DO IMPOSTOR. CONFIRA:

  • Você está prestes a fazer uma apresentação e, secretamente, acha que todos vão perceber o seu nervosismo e desespero por ter que realizá-la;
  • Finalmente, chegou a sonhada promoção e a sua narrativa interna diz que eles devem ter poucos candidatos, por isso você foi o (a) escolhido (a). Você está convencido(a) de que não vai corresponder às expectativas;
  • Em uma importante reunião, sua mente cria uma cena onde seu diretor levantará a voz a qualquer momento, tocará em seu ombro e seguirá falando em seu lugar, por que ele é mais competente que você, (mesmo que tenha sido ele que pediu sua apresentação).
  • Você Tem dificuldades de lidar com dinheiro. Quando ganha montantes significativos, sai gastando com frivolidades, comprando presente pra amigos ou doando para pessoas mais necessitadas que você.
  • Você é tomada por uma sensação estranha quando um namorado(a) te faz elogios ou demonstra desejo sexual por você.

Os cenários acima são meramente hipotéticos, mas podem ilustrar situações em que o indivíduo se sente uma fraude. Além disso, pessoas portadoras da síndrome do impostor tendem a ser perfeccionistas, têm um enorme medo do fracasso, se esmeram muito e quando alcançam o resultado almejado, inibem as suas próprias conquistas aos olhos dos outros. É um comportamento inadequado, irracional e que gera estresse, ansiedade, vergonha, e baixa autoestima.

COMO SUPERAR A SÍNDROME DO IMPOSTOR?

  1. É essencial buscar a ajuda de um especialista ou de um grupo para expressar os seus sentimentos, pois você descobrirá que não está sozinho nessa – a síndrome do impostor é mais comum do que pensamos e, todo mundo pode vivenciar tais sentimentos em fases agudas.
  2. Faça uma lista de suas realizações, habilidades e sucessos, independentemente de quão grande ou pequeno sejam. Isso provará que você tem valor concreto para compartilhar com o mundo. É preciso convencer-se do seu próprio potencial e introspectar que isso não é vaidade, é tão somente a verdade.
  3.  Construa um sistema de forte apoio com as pessoas que você mais respeita – mentor, colegas, família e amigos. Peça feedbacks contínuos e veja seus esforços e resultados sendo vistos; desfrute da alegria de sentir capaz e ver as coisas que fez fazendo o bem à outras pessoas.
  4.  Crie um discurso sobre si mesmo(a) que se sinta confortável. É importante saber o que você diz quando alguém pergunta o que você faz. Treine o momento da apresentação.
  5.  A síndrome do impostor acontece quando você subestima o quão bom você realmente é e quando você acredita que é necessário saber tudo. Permita-se continuar aprendendo e aceite que todos têm suas vulnerabilidades, não importa o cargo atual, experiência ou idade.

Além das 5 dicas para superar a síndrome do impostor citadas acima, é interessante documentar as suas realizações. Por isso, vamos orientar mudanças de comportamento no âmbito profissional. identifique o problema ou a situação que exigiu que você tomasse determinada decisão ou ação e quais as consequências positivas disso. Exponha essa visão aos seus liderados e gestores. Assim você irá exercitar o circuito de avaliação de problemas, tomada de decisão, resultado e recolhimento de feedback sobre como os outros vão interpretar. Revise tudo e siga para o próximo desafio. Sem medo. Quanto mais segurança você for adquirindo, maior será a capacidade de abraçar suas qualidades sem uma modéstia doentia. Identifique o resultado tangível de suas ações, por exemplo: simplificação de processos, melhorias de lucro, redução de custos, gerenciamento de riscos ou benefícios percebidos. E certifique-se de incluir essas conquistas em seu currículo como um lembrete do valor que você à empresa.

E quando receber um elogio, respire fundo e pense consigo: Eu sou merecedor(a) de tudo isso!.