Quem nunca fez uma coleção, por menor que tenha sido? Talvez uma coleção que todo mundo já fez quando criança foi de figurinhas, né?

Completar a coleção traz uma sensação prazerosa. E é normal que queiramos repeti-la outras vezes. O problema é quando sai do controle, se tornando uma compulsão.
Geralmente, o colecionador compulsivo guarda tudo de forma organizada, associa os objetos a um fato da vida ou a uma lembrança do passado – muitas vezes da infância – e também podem apresentar quadros de depressão e ansiedade. Não raras vezes apresentam baixa autoestima, dificuldade de se relacionar e de lidar com obstáculos.

Mas, afinal, por que alguém resolve investir tempo, dinheiro e muitas vezes espaço, com coisas que sem utilidade no dia a dia? Por que é preciso possuí-las, e não apenas saber que elas existem? Apesar de não colecionar objetos, o historiador alemão Philipp Blom tem sua teoria para explicar o comportamento. Seu livro Ter e Manter: Uma História Íntima de Colecionadores e Coleções, é um álbum de histórias grotescas e engraçadas dos primeiros e maiores colecionadores.

Para Blom, o hábito de juntar quinquilharias tem justificativas históricas, filosóficas e psicológicas – todas tratam o colecionismo como algo mais que um simples passatempo de adolescentes. Tem a ver com sentimento de grupo, competição, medos, fracassos, desejos não realizados, vontade de se isolar num mundo e ser capaz de comandá-lo.

O hábito também tem lá seus pontos positivos. Além de distrair a mente como um hobby, nos ensina a organizar e controlar as coisas, decidir a “vida e a morte” de cada objeto, uma vez que entre colecionadores existe muito a troca de peças e negociações calorosas. São formas de exercitar o relacionamento com o outro e a tomada de decisões.

É muito importante o próprio colecionador e os familiares ficarem atentos. O transtorno compulsivo pode se camuflar de colecionismo. O acúmulo pode gerar gastos desordenados e incompatíveis com o orçamento do mês, gerando endividamento ou desviando de outros fins que deveria ser prioridade dentro de um raciocínio lógico. Também gera ansiedade, por despertar o desejo de sempre mais e estresse e frustração quando a aquisição não acontecer. Às vezes, o colecionador também oscila entre o prazer da aquisição e a culpa, vivendo um misto de emoções conflitantes difíceis de digerir, que pode servir de gatilhos para sentimentos autodepreciativos e depressão.

Nos casos em que colecionar deixou de ser prazer para se tornar um problema, é preciso fazer uma reflexão sobre o que pode estar alimentando a compulsão. Sempre existem motivações subterrâneas, ocultas. Quem acumula, alguma coisa lhe falta.

A terapia cognitivo comportamental é muito utilizada como ferramenta para detectar a fonte originária do padrão compulsivo e ajudar o indivíduo num processo de reprogramação. Ao encarar frente a frente as situações capazes de descompensar seu estado emocional, entramos com o incentivo a tomadas de decisões que possam mudar o cenário e à mudança de comportamento frente à realidade que não pode ser mudada. Quando os conflitos internos se desfazem, as compulsões, como o colecionismo desenfreado perdem o sentido.

Por isso, é sempre bom ponderar o hábito: a diferença de hobby para um transtorno mental, está na intensidade e nos prejuízos que o comportamento causa na vida de quem pratica e no relacionamento com as pessoas do seu convívio.